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domingo, 14 de agosto de 2011

Provavelmente, uma das mais belas estradas do mundo

Com plena consciência de estar a fazer uma afirmação redutora, digo sem pruridos que a Marginal é possivelmente uma das mais bonitas estradas do mundo. É claro que o número de estradas que eu conheço é ínfimo, se considerarmos a imensidão de vias por esse mundo fora. Mas não interessa. Esta é nossa, é magnífica e está a dois passos de Lisboa. Ora vejam...


O céu da tarde estava com uma limpidez pouco habitual por estas bandas e a visibilidade para os dois lados da Marginal era quase perfeita. Apesar de estar tão perto, raramente vou a Cascais e sempre que lá vou arrependo-me de o não fazer com maior frequência.


As nuvens carregadas para os lados da Serra de Sintra deixavam antever que os dias seguintes seriam menos gloriosos do que o de ontem. Uma boa oportunidade, portanto, para apreciar o caminho e a baía em todo o seu esplendor.


Passeámos um pouco pela vila mas a America's Cup, que está a ter lugar até hoje, encheu as ruas de gente e as fotografias que tirei não captam como deve ser a beleza do lugar. Por isso, ficamo-nos apenas pela baía que, com confusão ou sem ela, dificilmente dá origem a más fotografias. 


Apesar de a partir do século XIX  se ter tornado numa estância balnear de eleição, Cascais mantém bem apertados os seus laços com o mar, não renegando o seu passado de vila piscatória. A qualidade do peixe oferecido é, aliás, um ponto de honra dos restaurantes que proliferam pelas suas ruas. Outra das teimosias de Cascais é recusar-se a ser cidade. O seu estatuto de vila é algo que se tem mantido ao longo dos séculos e, parece-me, faz parte da imagem de marca que os locais querem preservar.


Com a barriga cheia daquilo que nos levou a Cascais na tarde de ontem, despedimo-nos então da baía, que ia já sendo banhada pela luz do fim do dia, e voltámos à Marginal. Em movimento, é mais fácil fotografar o caminho na viagem de regresso e, assim, tentar provar a tese que apresentei no início do post.



Posto isto, digam-me com sinceridade: é ou não uma das estradas mais belas do mundo?

sábado, 6 de agosto de 2011

249 Liberdade

"Sebastião José de Carvalho e Melo, de frente para o Tejo e para a sua Baixa não consegue ver o que todos os anos acontece mesmo nas suas costas", escrevi eu em tempos sobre o Marquês e a sua estátua. Ontem, tal como ele, deixei o Parque para trás, segui o seu olhar e fui ver as novidades à Avenida da Liberdade. 


Que novidades? A Avenida, há tanto conhecida pelas suas lojas de marca, pelos seus preços exorbitantes, pelo seu trânsito, por ser uma das zonas mais poluídas de Lisboa e, mais recentemente, por ter sido transformada numa horta gigante por dois dias, num misto de apelo à produção nacional e de golpe publicitário duvidoso de um hipermercado (duvidoso para os meus padrões, entenda-se, porque as poucas vezes que lá tentei comprar produtos frescos, não eram nacionais e não eram bons...), a Avenida, dizia eu, ganhou novas cores e nova vida nos últimos meses. 


Bancos, candeeiros e pilaretes estão pintados de fresco, há música no ar e há novas esplanadas servidas por pequenos quiosques, um conceito que (finalmente!) começa a alastrar pela nossa cidade. Afinal, há vida para além do frenesi pontual dos que ali trabalham ou consomem e, apesar de o rácio de estrangeiros (espanhóis, quero eu dizer) para portugueses rondar os dez para um, tive a ligeira sensação de ter conseguido ouvir mais vezes a minha língua do que em qualquer outro passeio que tenha feito por esta Avenida. Óptimo, está na hora de os lisboetas apreciarem o que têm cá dentro e qualquer ajuda para que assim o seja é muito bem-vinda. 

A Avenida da Liberdade foi, em tempos, o expoente dessa vida. Se pensarmos, é lá que está o que foi um dia o mais importante cinema de Lisboa - o São Jorge -, a mais emblemática sala de espectáculos - o Tivoli - e um espaço com restaurantes e quatro teatros que era a casa e a vida de tantos artistas e o gáudio de tantos lisboetas: o Parque Mayer. Um espaço que voltou à ribalta por negócios obscuros, indecisões camarárias, permutas de terrenos, arquitetos famosos, mas uma ribalta apenas na imprensa e nos tribunais, porque o espaço, esse, continua em ruínas, apenas com um dos seus quatro teatros em funcionamento - o Maria Vitória -, um ou dois restaurantes e alguma arte urbana que mal consegue fazer-nos desviar os olhos da degradação reinante. 
Confesso: foi uma experiência algo arrepiante. Nos cerca de dez minutos que me demorei a explorar o espaço, não vi uma única pessoa para além do senhor que estava na bilheteira. Só vi carros estacionados e pelo menos uma dezena de gatos. Não ouvi um ruído, nem da avenida, nem de dentro dos edifícios, não vi uma cabeça a espreitar, nada de nada. A sensação que tive foi a de estar num filme do Miyazaki e que, assim que escurecesse, aquele lugar iria encher-se de deuses e espíritos e sem-face. Creepy...


Foi assim que voltei com algum alívio à Avenida que, apesar de ao final do dia estar já bastante sombria, me pareceu bem mais acolhedora do que o espaço do Parque.


A Avenida é rica em pormenores. Não fui pesquisar sobre a sua história, sobre as suas estátuas ou sobre os seus pequenos lagos, mas não deixo nunca de me pasmar com a beleza que aquelas águas conseguem reflectir.


E assim acabo a minha descida. É bom sair das sombras e entrar nos Restauradores. Se me perguntarem o que mais gosto em Lisboa terei que dizer que são as suas cores, sobretudo ao final do dia. É um espectáculo memorável. E a Praça dos Restauradores capta-as quase todas - só lhe falta a cor que vem do rio, que vemos ao fim do dia nos tantos miradouros da cidade. Esta zona de Lisboa está magnífica. Como dizia o João no outro dia, o lisboeta tem que se conformar com o tempo que duram as obras na sua cidade, se quiser manter a sanidade mental. Durante boa parte da minha infância e adolescência, a imagem que tinha desta zona da cidade era a dos tapumes das obras. O Google não está a colaborar comigo para me dizer quanto tempo demorou a requalificação da Baixa, mas a minha memória diz-me que foi muito. O que é certo é que hoje sinto um imenso orgulho quando passo por aqui. Ficou realmente bonita, esta minha cidade. E não podemos ficar indiferentes à pequena placa de intervenção, que apesar de estar rodeada por tanta beleza, nos lembra como o nosso país está de pernas para o ar.     


Já eram oito da noite, mas o plano era subir a Avenida para aproveitar os últimos minutos de luz e fotografá-la do outro lado. A sua largura, as três vias que a compõem e o trânsito constante fazem com que esta seja a maneira mais lógica de por ela passear. Apesar de ter alguns prédios com a traça dos anos sessenta e setenta e outros mais modernos, a Avenida da Liberdade, tal como outras das principais artérias de Lisboa, tem prédios magníficos, absolutamente maravilhosos. Aqui estão na sua maioria recuperados, o que acrescenta ainda mais beleza a esta rua. E, é claro, as colinas e o seu casario estão sempre à espreita em cada transversal. Apesar de mais modestas, são essas casas das colinas e os seus telhados que dão a Lisboa a paleta de cores de que falava há pouco.


A Avenida da Liberdade é também famosa pelas suas lojas. Foi aqui que algumas das mais famosas e mais caras marcas do mundo resolveram estabelecer-se e, tenho que admitir, os seus luxuosos interiores fazem jus à magnificência dos edifícios que as acolhem. Mesmo nos mais modernos, não pude deixar passar esta estátua assustadoramente cómica por cima da Fly London e o toque de humor na porta já encerrada de uma loja de fatos de banho.



Quando cheguei ao topo da Avenida, os pés latejavam, as pernas doíam e ansiava por me sentar numa das esplanadas que estiveram na origem deste passeio de final de semana. Pelos vistos, não era a única que não aguentava nem mais um minuto em pé...


E assim caiu a noite na Avenida. Sebastião José Carvalho e Melo, mesmo em estátua, revela continuar a ter visão. As luzes da cidade que caem sobre o rio e as que percorrem a Avenida são, sem dúvida, um dos espectáculos a não perder na vida e na noite de Lisboa.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Pela Duque d'Ávila até à Praça de Espanha

Existem 3 regras a seguir para quem vive em Lisboa se quiser evitar que os seus níveis stress atinjam o limiar do acidente vascular cerebral:
- Maior parte das situações de mau atendimento resolvem-se com a expressão “quero falar com o responsável”;
- É inútil discutir com um polícia de trânsito e;
- As obras duram o tempo que duram. É absolutamente proibido alimentar expectativas com conceitos como “prazo previsto”.

Este Sábado resolvi ir até à Avenida duque d’Ávila, uma artéria da cidade que sofreu uma intervenção daquelas que levou ao desespero os que ignoram a terceira regra de ouro da sanidade mental lisboeta. Fui lá com o intuito de ver o resultado destras obras da proverbial Santa Engrácia mas também porque está lá a Snoopy Parade – uma série de estátuas do Peanut mais famoso decoradas por artistas plásticos e outras personalidades.


As obras devolveram esta avenida aos lisboetas, deixando mais de metade da sua largura livre para esplanadas, uma zona pedonal ampla e uma ciclovia concorrida, apesar do período de férias e do calor que fazia, depois de se desvanecer o nevoeiro com que Lisboa acordou. Para ser melhor falta ainda um pouco mais de sombra, em particular no seu troço oriental.



No fim da avenida, onde cheguei a uma hora em que o calor já apertava, está o jardim da Gulbenkian, a convidar-me a deambular pela sombra dos seus caminhos. O jardim tem recantos para todos os apetites. É um local ideal para ler, namorar, passear com os miúdos, fazer a corrida de manutenção ou simplesmente não fazer nada. É um bocado como todos os jardins da cidade. A sua originalidade estará eventualmente nas obras de arte com que nos surpreende a espaços.









Deixei o jardim para trás com tempo para ir ainda até à praça de Espanha fotografar o arco que durante anos vi desmontado pelo chão com as pedras numeradas a vermelho - mais uma obra de Santa Engrácia - que foi finalmente reerigido e onde foram gravados alguns trechos de textos evocativos da revolução de Abril, o que não faz muito sentido não só pela sua origem (foi construído no Séc. XVII na  rua de S. Bento e fazia parte de uma galeria do aqueduto) mas também porque está numa parte da praça de que ninguém se aproxima o suficiente para os ler por estar cercado por um trânsito intenso que desencoraja mesmo os mais curiosos.

Deixo aqui um desses textos, um verso de Sophia de Mello Breyner, que até este Sábado me tinha passado despercebido:

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

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