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segunda-feira, 21 de março de 2011

Por terras do Risco

No domingo este turista fez o que fazem todos os lisboetas assim que aparece um fim de semana de calor: atravessou a ponte 25 de Abril em direcção ao Sul onde o sol brilha um brilho diferente. Mas não fui à procura das praias, destino mais popular nos dias verdadeiramente quentes. Não, ainda estamos em Março e, apesar de ter ido para muito perto do mar, optei pelo campo – o parque Natural da Arrábida, mais concretamente a Serra do Risco que fica, em termos grosseiros, entre Sesimbra e a Serra da Arrábida propriamente dita.


O nosso passeio começou junto às famigeradas pedreiras que parecem insaciáveis na sua fome de serra. E a sua dimensão é tristemente impressionante. Apesar de não nos podermos aproximar delas, é possível avaliar o tamanho daqueles feios buracos por comparação com as máquinas que no domingo estavam paradas, não só por ser dia de descanso mas também pela menor procura que a pedra extraída tem em tempos de crise. Nem tudo é mau numa recessão.



A nossa subida acompanhou a linha da costa, por caminhos abertos de acesso fácil até um pequeno farol automático, a fazer lembrar que também este ofício está em extinção. A brandura deste troço convidava a que nos detivéssemos a observar (e a fotografar, claro) a flora local, com cores realçadas pelo primeiro dia de sol quente desde há alguns meses.


Desde os carrascos, carregados de pequeníssimas bagas vermelhas formadas pela acção de um insecto parasita, a partir das quais os romanos produziam a tinta escarlate, até aos narcisos que pavimentam o caminho e que a lei proíbe que se pisem, a flora local é bastante fotogénica.



A fauna também quis colaborar. Desde as laboriosas formigas às irrequietas borboletas, a bicharada andava animada e, chegados ao Píncaro (o ponto mais alto da Serra do Risco - 380m) fomos brindados com a passagem dos golfinhos do Sado, pouco comuns por aquelas bandas. Pena a lente ser tão fraca...


A partir do cume, onde parámos para aliviar à dentada grande parte do peso das nossas mochilas, começámos uma lenta descida por estreitas veredas por entre, e às vezes sob, os carrascos, onde a espaços tínhamos acesso a magníficas vistas sobre o oceano e sobre as pequenas praias e enseadas a que só acede ou com grandes doses de coragem (pelas falésias calcárias) ou de barco, para os mais timoratos.


À medida que descemos, os carrascos complicam-nos o caminho. Esta é a parte da caminhada em que se percebe que o nome desta planta deve ter origem nos arranhões com que nos brindam à nossa passagem nas zonas mais estreitas. Apesar de ser um arbusto (quase não há árvores em toda a serra) há partes do caminho em que nos cobrem completamente. Num desses troços aproveitámos a sombra para descansar e esperar pelo resto do grupo que seguia um pouco atrasado. É engraçado como pequenos detalhes, que ignoraríamos noutras circunstâncias, assumem proporções inesperadas quando estamos confinados a um espaço em que mal cabe uma pessoa sentada.
Quando o grupo finalmente se reuniu, continuámos a descida em direcção ao vale ocupado pelo Palácio e Quinta do Calhariz cujos terrenos ocupam o vale plano que se pode dizer sem grande rigor separa a Serra da Arrábida da Serra do Risco.
Foi uma tarde cansativa e que deixou marcas físicas (cansaço, arranhões e escaldões). Mas num sítio em que até os cardos teimam mostrar o seu lado bonito, tudo isso foi rapidamente esquecido pelo magnífico domingo a passear pelas terras do Risco.

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