Vivi vinte e oito anos da minha vida em Almada. Nos primeiros oito, morei num décimo quinto andar perto do rio, o que tornou a vista sobre Lisboa na primeira coisa por que me apaixonei no que à cidade onde nasci respeita. Não era exactamente esta, mas era muito parecida...
Depois mudei-me para as zonas mais recentes de Almada, que são (muito) feias e responsáveis pela imagem menos positiva que a generalidade das pessoas tem daquela terra. Ainda assim, Almada velha era o sítio que me acolhia nos passeios, nos amores, nas longas tardes e noites de teatro, nos passeios à beira-rio e em tantos outros momentos da minha adolescência e início da idade adulta. Tanto que, quando aos vinte e dois saí de casa dos meus pais, foi para o centro de Almada que fui viver e isso aproximou-me ainda mais daquela zona da cidade. Dois dos meus lugares favoritos no mundo são ali. Mas a eles voltarei noutra altura. Por hoje fico-me pela beira-rio e pela janela sobre Lisboa que essa zona é.
O cais do Ginjal faz parte da história da minha família. O meu avô viveu lá durante muitos anos e o meu pai, na sua infância, aprendeu a nadar nas águas do Tejo, que ainda era suficientemente limpo para permitir tais aventuras. Depois, com o passar dos anos, as casas que dormiam sobre o rio degradaram-se aos poucos, afectadas pelo vento salino do Atlântico e pelo desleixo dos homens. Sempre me lembro do cais do Ginjal com as suas casas em ruínas, os seus pontões cheios de pescadores e a promessa nunca cumprida de requalificar aquele pedaço da cidade. Requalificada está apenas a área que circunda o elevador que nos permite ir de Almada velha para a beira do rio, que conta com um belo jardim, bem arranjado e cativante, que nos chama para a leitura ou para a mera contemplação.
Se seguirmos pelo jardim, entramos no cais propriamente dito, onde as lages do chão brilham, gastas pelo tempo e pelas ondas mais rebeldes, e os artefactos portuários se impõem ainda, apesar de comidos pela ferrugem. E, uns metros à frente, temos esta visão quase inusitada, pois quem não conhece o sítio jamais imaginaria que no meio daquelas casas à beira da derrocada pode haver um restaurante.
Mas há. Dois, até. O primeiro, que é responsável por esta cena magnífica, é definitivamente um dos meus favoritos na zona de Lisboa, pelo espaço, pela vista e, especialmente, pelo melhor arroz de cabidela que conheço.
Se seguirmos pelo cais e olharmos para trás, vemos a ponte em todo o seu esplendor.
A ver pela amostra, gostava mesmo de ter conhecido o Cais do Ginjal nos seus tempos de glória.
Glórias agora, só as destes pescadores. Ou talvez não.
Ai mulher, que me deixaste com saudades...
ResponderEliminarAdorei as fotos...temos que ir lá experimentar o restaurante...
ResponderEliminar:) E aposto que vais gostar da cabidela :)
ResponderEliminarEna, o Ponto Final!! Há que anos não o via. Parabéns, novamente, Susana. Fantástica reportagem, como sempre!
ResponderEliminarObrigado Sharon! Continua óptimo, tens que lá ir...
EliminarNada a agradecer! Obrigada por me dizeres que o Ponto Final não se degradou com a passagem dos anos. :)
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