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domingo, 24 de abril de 2011

De Belém a Alcântara

O passeio de ontem à tarde foi por Belém, uma das minhas zonas favoritas da cidade. O dia chuvoso esteve quase a estragar o programa, mas o final da tarde brindou-nos com um sol glorioso e uns vinte e dois graus centígrados ideais para qualquer passeio a pé. O meu começou no Restelo e, apesar de ter estado tentada a dedicar as horas que tinha aos grandes monumentos da zona, decidi-me pelo lado contrário desta zona da cidade. Assim, entrando em Belém pela Rua dos Jerónimos, deparei-me com um antigo eléctrico parado no meio do passeio, como se ali tivesse descarrilado e sido esquecido para todo o sempre. Já o velho quinze vai e vem, sempre em movimento, sempre em labor, sempre cheio de turistas, invariavelmente conduzido por mulheres. Pelo menos ontem.


Apesar dos vários apelativos da Rua de Belém, tenho um fascínio especial pela Rua Vieira Portuense, pelos seus prédios sobreviventes ao Grande Terramoto, pelas esplanadas e pela vista para o parque. Nos seus passeios, no relvado e em todo o lado, ouvia-se sobretudo falar espanhol e português do Brasil, mas via-se também britânicos e holandeses a disfrutar o sol deitados na relva, tal como fazem sempre que este brilha nas suas cidades chuvosas.


De volta à Rua de Belém, retrocedi um pouco para comprar uns pastéis, sobremesa prometida para o jantar dessa noite.


A minha aversão à confusão e a multidões faz com que raramente me encontrem nos Pastéis de Belém a um fim-de-semana, por isso não sei se o que vi ontem é ou não normal. O que é certo é que a fila à porta era quase infinita, afastando da minha mente a ideia de os comprar ao balcão. Lá dentro, o mar de pessoas que esperava para se sentar era imenso, mas ainda assim o plano de tomar um café, comer um pastel e comprar os restantes revelou-se bastante inteligente. Deu para assistir à chico-espertice de um grupo de italianos a ignorar a fila, a sentar-se à má-fila e a fingir que não entendia o empregado que defendia os outros clientes como um cão de fila. E, é claro, comer um (dois) pastel, bem quente, ainda a fumegar, exactamente como gosto deles.


Os pastéis deram-me alento para fazer a caminhada que se tinha entretanto desenhado na minha mente: atravessar a Rua da Junqueira de lés-a-lés e parar apenas em Alcântara. Tal como tantas outras, esta zona de Lisboa tem casas magníficas, algumas muito bem recuperadas como esta que alberga outra das pastelarias famosas da cidade. 


Subi um pouco da Calçada da Ajuda e decidi seguir pela Rua do Embaixador. Como tenho vindo a referir, gosto particularmente das ruas com menos gente, onde conseguimos distinguir as cenas do dia-a-dia da nossa cidade. A nossa geração pouco liga aos vizinhos, mas para gerações mais antigas este relacionamento é vital, como sempre foi: os laços criados entre a vizinhança permitiram sempre recriar um pouco o ambiente das bem amadas e tão distantes aldeias do Portugal mais ou menos profundo, que as famílias deixavam para trás em busca de uma vida melhor na capital. As crianças de então que são os avós de agora brincavam nestas mesmas ruas e as suas mães partilhavam mágoas, tristezas e problemas de janela para janela. É esta relação que salva nos dias de hoje a maioria dos nossos idosos, que vivem sozinhos nas grandes cidades e que ainda em muitos casos, pelo menos em Lisboa, têm a salvaguarda de uma vizinha que se preocupa se não os vê nas suas rotinas habituais, que lhes bate à porta para saber se estão bem, que os ajuda com as compras da mercearia ou os socorre em caso de necessidade. É por isso que cenas como as desta senhora a conversar com a sua vizinha, espreitando para a sua casa, partilhando as memórias de outrora ou os acontecimentos do dia, são daquelas que não consigo deixar de registar e que me deixam sempre alguma tristeza, por saber que desaparecerão em breve.
 

Ainda na Rua do Embaixador descobri esta capela. A porta entreaberta ainda me chamou, mas a visita ficará para outro dia. Entrei então na Rua da Junqueira repleta de prédios magníficos, pequenos e grandes palácios e esta bela fonte, de cuja existência já não me lembrava.


Esta rua poderia ser uma das mais bonitas ruas de Lisboa, não fosse a maioria dos seus palácios estar a degradar-se ou mesmo ao abandono como este, perto da Calçada da Boa-Hora, com o jardim transformado em selva, as varandas e guaridas comidas pela ferrugem e a sua beleza marcada por grafitis feios e selvagens que nada têm a ver com tantos outros que aqui temos registado.


No entanto, mesmo com sinais de clara degradação, conseguimos ver edifícios de uma beleza extraordinária...

  
É nesta zona que a Rua da Junqueira deixa ver por entre as casas o traçado da Ponte 25 de Abril, que ali ao lado, na Avenida da Índia, se nos impõe na sua grandeza. Não pude deixar de fazer um desvio ao parque de estacionamento do Centro de Congressos, onde somos brindados com esta imagem.


Voltando à Junqueira, e já debaixo dos pilares terrestres da ponte, está o Museu da Carris, onde pude ver todos estes eléctricos e apreciar o emaranhado de cabos e fios que rasga os céus naquela parte da rua.


Terminei o meu passeio fotográfico no Calvário, chegando assim a Alcântara, perto de onde a minha boleia me aguardava. A mim e aos Pastéis de Belém que partilharam comigo mais este passeio por Lisboa.

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