Já foram ao Convento do Carmo? Eu nunca tinha ido, até ontem. Depois daquilo que me tomou a manhã e o início da tarde, estava a passear a a fotografar com a minha amiga M. e uma americana pediu-nos direcções para lá ir ter. Fiquei imediatamente com vontade de seguir as direcções que lhe demos e esse acabou mesmo por ser o meu destino. Mas já lá iremos.
Apesar do frio, estava uma tarde gloriosa e o Chiado resplandecia. É sem dúvida a zona mais viva da cidade. Vê-se de tudo, ouve-se de tudo: famílias, solitários, amigos, malabaristas, ensaios ao vivo, dança moderna, encontros, desencontros, tudo, ali, a qualquer hora que lá se vá.
Desde o incêndio de oitenta e oito, de que me lembro vividamente, o Chiado tem sido reconstruído e reabilitado de forma a que o moderno e o antigo coexistam. Na minha opinião, é algo que tem sido conseguido com sucesso.
Lá fui então ter ao Largo do Carmo, onde a frente do convento se dilui nas árvores e no casario, mas onde permanece imponente, apesar de despido de tecto. Há já vários anos que tinha vontade de o visitar, mas nunca tinha havido oportunidade. A turista americana tratou de me dar o mote e lá fui eu, munida de bilhete e máquina em punho. Quem já foi à Escócia, aprende a ver a beleza num edifício em ruínas, sobretudo quando o que se mantém de pé está bem conservado. Este foi claramente o caso e, por momentos, senti-me novamente nas abadias escocesas e renasceu em mim a vontade de lá voltar. Afinal, é um dos sítios mais espectaculares que já visitei.
Gostei muito de visitar o Convento, que acolhe aliás o Museu Arqueológico do Carmo, mas o que fez realmente a minha tarde foi ver um grupo de pais e miúdos que estavam de visita ao espaço. Os pais, creio, organizaram um jogo onde os miúdos tinham que procurar os símbolos e estátuas que lhes iam mostrando em fotografia. Estavam organizados em equipas e as correrias, a algazarra e a excitação por ter encontrado o pretendido era entusiasmante. Bela actividade para um Sábado à tarde. Bela alternativa às consolas.
A nave do Convento, que é a parte sem tecto, é sem dúvida a mais impressionante, mas o espaço interior vale a pena explorar. Tem painéis de azulejos magníficos, uma bela biblioteca, e expõe variadas peças, algumas encontradas nas escavações de noventa e seis, outras de proveniências variadas.
Lá encontram-se também, entre outros, o túmulo de D. Fernando e a sepultura primitiva de Nuno Álvares Pereira. Correndo o risco de tornar este site um pouco tétrico (após dois posts seguidos com cemitérios e túmulos), acho que vale a pena dar uma vista de olhos ao trabalho de escultura, que está magnífico.
De volta ao exterior, sentei-me a descansar um pouco e a observar a linda janela manuelina e, confesso, a merecida merenda dos miúdos que por essa altura já haviam completado o jogo. Recomendo a visita, sem sombra de dúvida.
A tarde chegava ao fim, mas ainda houve tempo de descer a Calçada do Carmo para tentar ver as vistas. Para quem tenha interesse, há vários alfarrabistas por ali. Estavam todos fechados, mas uma espreitadela furtiva deu para perceber que se pode encontrar vários tesouros dentro daquelas portas.
Para voltar ao Chiado, há que subir a enorme escadaria da Calçada do Duque, mas a vista sobre o Castelo faz o esforço valer bem a pena. Os restaurantes começam a tratar dos jantares, ouve-se fado pelas ruas e há esplanadas nos sítios menos prováveis. E, apesar do frio e de ser Fevereiro, mantêm-se alguns enfeites dos Santos Populares, que dão sem dúvida um ambiente diferente e ajudam a suportar a dura subida.
E chega-se por fim ao Largo Trindade Coelho, onde o cauteleiro que lhe dá outro dos seus nomes nos espera com a sua cautela na mão e o seu rosto afável.
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