Já tenho
trazido aqui muito daquilo que forma esta cidade: as ruas, os mercados, as
lojas, das pessoas e os monumentos. Apercebi-me há uns tempos que nunca tinha
feito nada sobre uma das grandes paixões de Lisboa (e de outras deste país, mas
isso não vem ao caso) - o futebol. É esse o meu tema de hoje.
Ou melhor,
o tema de hoje é o Benfica. Que me desculpem os que preferem outras cores - o verde e
o azul de Belém também têm o seu
merecido espaço no coração dos lisboetas - mas eu sou do Benfica.
O Benfica
é vermelho. Vermelho como as papoilas do Piçarra, como os cravos da democracia,
como o sangue que nos aquece os ossos. O Benfica é a história de gigantes bons,
de campeões que choram quando perdem e que não desonram aqueles a quem ganham. Porque
o Benfica não odeia os adversários.
O Benfica
é o João Pinto a - quase sozinho - vencer os de verde e o temporal e a lama. É o
Chalana a inventar espaços que só ele vê, é o Rui a jogar sem esforço e a
passar a bola por sítios onde não cabe, é o Nené a fazer golos atrás de golos
sem quase tocar na bola.
O Benfica é o drama do penálti
do Veloso, do Feher a cair em campo e do joelho do Mantorras. São tantos os
titãs que ninguém se devia atrever escrever sobre eles numa mera entrada num
blogue.
Esta magia
vermelha tem uma manifestação física - o Estádio da Luz. Diferente do velho
estádio, capaz de reunir 120.000 corações - todos por um - numa tarde de
glória, o estádio de hoje corresponde às exigências civilizacionais modernas,
os mesmos que nos trouxeram a fruta calibrada, as leis antitabágicas e os
coletes reflectores. A sociedade que temos hoje é mais segura e mais higiénica,
mas eu preferia que não me tivesse tirado a velha Luz cheia que nem um ovo e,
já agora, o tartan liso do campo de treinos onde passei tantos fins de tarde.
A Luz de
hoje tem restaurantes e ginásios com vista para o relvado, lugares marcados,
camarotes de empresa e, reza o mito urbano, um balneário com piscina para a
equipa da casa.
O que se
mantém igual é o que nos leva até lá: os que envergam as nossas cores, os magos
que nos enfeitiçam durante hora e meia, os que sobre a relva desafiam as leis
da física e as limitações do físico. Eles, os jogadores do Benfica, são os que
cumprem o sonho que tiveram os miúdos que, afinal, acabaram por ser contabilistas,
pedreiros ou arquitectos.
Mas esses
não estavam na Luz quando lá fui na passada terça-feira.
Nesta visita não vos acompanhei mas arranjei-vos companhia. Um dos meus filhos e uma amiga minha que são Benfiquistas incondicionais. Sei que deliciarão com a vossa visita guiada.
ResponderEliminarMaria
"O Benfica é vermelho. Vermelho como as papoilas do Piçarra, como os cravos da democracia, como o sangue que nos aquece os ossos." Bonito!!!
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