Visitar um jardim no inverno pode não ser das coisas mais apelativas. Falta-lhe a cor fragrante dos canteiros e o consolo da sombra num dia quente. Muitas árvores estão despidas, algumas plantas ainda não se renovaram, enfim, falta-lhe aquela beleza mais clássica. A beleza das flores na primavera, dos frutos no verão e dos mantos de folhas secas no outono. Ainda assim, quando fui aqui não podia deixar de ir espreitar o Jardim Botânico da Ajuda.
O que salta mais à vista é a sumptuosidade do espaço, não tivesse este sido um jardim para os reis, construído em três hectares e meio de terreno. As escadarias de pedra levam-nos ao nível inferior, com caminhos amplos e bem demarcados, separados por labirintos de sebes, sem entrada ou saída.
As fontes são elementos focais no jardim, uma simples, a outra - com quarenta e uma bicas - ricamente trabalhada com animais marinhos, reais e imaginários, a guardarem as suas águas.
A escadaria mais imponente leva-nos ao andar superior, onde se tem uma vista soberba sobre todo o jardim, vislumbrando-se lá ao longe o recortado agreste da ponte sobre o Tejo.
E nesse nível, também, quatro estufas, três delas com plantas no seu repouso de inverno, a outra albergando o Estufa Real, um emblemático restaurante da cidade. Estufas onde, numa tentativa de dinamizar o espaço, se fazem várias feiras e workshops de jardinagem. Cheira-me que vou experimentar um em breve...
Plantas de todas as partes do mundo crescem em canteiros, indiferentes aos gritos dos pavões que encontraram casa no meio de tantas árvores que singram fora do seu habitat natural. E, no meio dos comuns pavões azuis, um não tão vulgar pavão branco, o primeiro que vi até hoje.
Uma árvore de tão grande diâmetro que precisa de suporte, lembrando aquela outra, magnífica, que nos acolhe no Jardim do Príncipe Real.
E, para terminar, as poucas frutas que resistem ao inverno neste jardim marcado pela flora do mundo.
No final de contas, terei que me retratar: estava enganada ao dizer que um jardim deixa de ser belo no inverno...
Soberbo; boa fografia, óptima narrativa!
ResponderEliminarObrigado, Fernando!
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