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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Do Carmo e arredores

Já foram ao Convento do Carmo? Eu nunca tinha ido, até ontem. Depois daquilo que me tomou a manhã e o início da tarde, estava a passear a a fotografar com a minha amiga M. e uma americana pediu-nos direcções para lá ir ter. Fiquei imediatamente com vontade de seguir as direcções que lhe demos e esse acabou mesmo por ser o meu destino. Mas já lá iremos.



Apesar do frio, estava uma tarde gloriosa e o Chiado resplandecia. É sem dúvida a zona mais viva da cidade. Vê-se de tudo, ouve-se de tudo: famílias, solitários, amigos, malabaristas, ensaios ao vivo, dança moderna, encontros, desencontros, tudo, ali, a qualquer hora que lá se vá.


Desde o incêndio de oitenta e oito, de que me lembro vividamente, o Chiado tem sido reconstruído e reabilitado de forma a que o moderno e o antigo coexistam. Na minha opinião, é algo que tem sido conseguido com sucesso.


Lá fui então ter ao Largo do Carmo, onde a frente do convento se dilui nas árvores e no casario, mas onde permanece imponente, apesar de despido de tecto. Há já vários anos que tinha vontade de o visitar, mas nunca tinha havido oportunidade. A turista americana tratou de me dar o mote e lá fui eu, munida de bilhete e máquina em punho. Quem já foi à Escócia, aprende a ver a beleza num edifício em ruínas, sobretudo quando o que se mantém de pé está bem conservado. Este foi claramente o caso e, por momentos, senti-me novamente nas abadias escocesas e renasceu em mim a vontade de lá voltar. Afinal, é um dos sítios mais espectaculares que já visitei.


Gostei muito de visitar o Convento, que acolhe aliás o Museu Arqueológico do Carmo, mas o que fez realmente a minha tarde foi ver um grupo de pais e miúdos que estavam de visita ao espaço. Os pais, creio, organizaram um jogo onde os miúdos tinham que procurar os símbolos e estátuas que lhes iam mostrando em fotografia. Estavam organizados em equipas e as correrias, a algazarra e a excitação por ter encontrado o pretendido era entusiasmante. Bela actividade para um Sábado à tarde. Bela alternativa às consolas.




A nave do Convento, que é a parte sem tecto, é sem dúvida a mais impressionante, mas o espaço interior vale a pena explorar. Tem painéis de azulejos magníficos, uma bela biblioteca, e expõe variadas peças, algumas encontradas nas escavações de noventa e seis, outras de proveniências variadas. 


Lá encontram-se também, entre outros, o túmulo de D. Fernando e a sepultura primitiva de Nuno Álvares Pereira. Correndo o risco de tornar este site um pouco tétrico (após dois posts seguidos com cemitérios e túmulos), acho que vale a pena dar uma vista de olhos ao trabalho de escultura, que está magnífico.


De volta ao exterior, sentei-me a descansar um pouco e a observar a linda janela manuelina e, confesso, a merecida merenda dos miúdos que por essa altura já haviam completado o jogo. Recomendo a visita, sem sombra de dúvida.


A tarde chegava ao fim, mas ainda houve tempo de descer a Calçada do Carmo para tentar ver as vistas. Para quem tenha interesse, há vários alfarrabistas por ali. Estavam todos fechados, mas uma espreitadela furtiva deu para perceber que se pode encontrar vários tesouros dentro daquelas portas.


Para voltar ao Chiado, há que subir a enorme escadaria da Calçada do Duque, mas a vista sobre o Castelo faz o esforço valer bem a pena. Os restaurantes começam a tratar dos jantares, ouve-se fado pelas ruas e há esplanadas nos sítios menos prováveis. E, apesar do frio e de ser Fevereiro, mantêm-se alguns enfeites dos Santos Populares, que dão sem dúvida um ambiente diferente e ajudam a suportar a dura subida.


E chega-se por fim ao Largo Trindade Coelho, onde o cauteleiro que lhe dá outro dos seus nomes nos espera com a sua cautela na mão e o seu rosto afável.

domingo, 23 de outubro de 2011

Centro Comercial?

Nos últimos anos, o nosso país encheu-se de centros comerciais. Não de pequenos centros como havia antigamante, mas de monstruosos edifícios com vários andares, onde encontramos (quase) sempre as mesmas cadeias de lojas, os mesmos serviços, os mesmos filmes nas salas de cinema, os mesmos restaurantes. Espaços convenientes, não contesto isso, pois rapidamente podemos encontrar uma série de coisas de que precisamos (ou, muito provavelmente, de que não precisamos, mas enfim...) a dois passos umas das outras e num curto espaço de tempo. Espaços onde podemos passar um dia inteiro se assim nos aprouver, entre o almoço padronizado, a camisola barata feita na China que ainda está mais barata porque está em promoção, os livros, CDs, DVDs e afins que chamam por nós no antro da perdição (aka Fnac), o filme no cinema do chão peganhento, o vaguear pelos corredores a ver as modas, o hipermercado, e por aí em diante. Espaços onde famílias inteiras passam os seus fins-de-semana, mesmo quando o sol brilha no céu e as crianças poderiam estar a brincar ao ar livre. Não gosto de centros comerciais. Reconheço a sua utilidade e vou lá quando necessito, por isso não tenho legitimidade para criticar a sua existência, mas confesso que ao fim de algum tempo de lá estar, começo a sentir uma vontade enorme de fugir dali. Por isso evito-os tanto quanto me é possível. 

Para além disso, há muita coisa que não se encontra nos centros comerciais, sendo a principal o amor às coisas bem feitas. O amor ao que se vende, ao que se ofereçe, a palavra amiga, a proximidade com o cliente. Ontem fui à Baixa para mostrar algumas lojas antigas à minha filha, lojas onde, entre outras coisas que não há nos centros comerciais, se encontra isso também. Não sei se estas pequenas lojas conseguirão sobreviver nos próximos anos - dói a alma ver tantas e tantas que já fecharam portas -, mesmo aquelas que ali estão há cinquenta, há cem ou há ainda mais anos. Algumas conseguiram reinventar-se, outras dificilmente sobrevivem aos senhores do parágrafo de cima e às grandes cadeias que também andam por ali. Ainda assim, enche-me o coração de esperança ver que, apesar de tudo, há algumas que, sendo recentes, tentam recuperar os padrões antigos de simpatia, atendimento, diferenciação e qualidade, promovendo o que é nosso, o que é português e o que ainda resta no nosso imaginário colectivo.


Começámos o nosso passeio pelo Chiado. As fotografias que tirei à Bertrand não fazem juz à sua beleza, por isso não as ponho aqui, mesmo sabendo que este relato ficará por isso incompleto. Mas prometo voltar a este tema em breve... 

As lojas do Chiado, pelo menos as das suas ruas principais, parecem de algum modo ter mais hipóteses de sobreviver ao que aí virá pelo número esmagador de turistas que se encontra em qualquer dia, a qualquer hora por estas bandas. Ou talvez não...


Uma das minhas preferidas é a Casa Pereira, uma das poucas lojas de cafés, chás, chocolates e afins que ainda subsistem em Lisboa. O cheiro destas lojas é inigualável e está entre os meus favoritos: o aroma divinal dos grãos de café, misturado com a docura dos chocolates e o cheiro das folhas de chá. Comprei uns bombons com creme Regina, os que eu mais gostava em criança, e um pouco de Chá de Natal para as tardes de inverno. Falei com os empregados sobre o negócio e a crise e a minha filha recebeu festas de simpatia e uma joaninha de chocolate para experimentar.


Descemos para a Baixa e, rapidamente, entrámos no mar de gente da Rua Augusta. Sempre que por lá passo, fico com saudades dos primeiros anos de faculdade, em que a atravessava todos os dias para ir para o barco no Terreiro do Paço, e de um dos meus primeiros empregos, que era por aquelas bandas e que deixava toda aquela zona por minha conta à hora do almoço.


Casas de carimbos, de sedas e tecidos, de artesanato para turista ver, de artesanato para português ver, de artes decorativas... 




... e as esplanadas, onde eu adorava sentar-me a escrever e a apreciar as vidas que se desenrolavam à minha volta.


Mas muitas das lojas que valem realmente a pena estão nas paralelas e perpendiculares à rua Augusta. Drogarias e perfumarias à antiga, que vendem detergentes, sabonetes, vernizes e essências; lojas de tapetes e tapeçarias, lojas de candeeiros, de atoalhados, de tachos, panelas e facas, alfaiates, costureiras, garrafeiras, retrosarias repletas de lãs, galões e botões... e poucos clientes. Muito poucos...


Vai havendo excepções, como a ervanária Rosil, que ainda não conhecia e onde fui comprar alfazema da melhor que há, menina, só a flor, que esta aqui nem faz pó. Os empregados são de uma simpatia ímpar, e lá recebi uma explicação gratuita sobre ervas e os seus benefícios, num espaço imaculadamente arranjado, com duas lojas quase paralelas (fui à pequena, só depois vi a grande) e uma enorme variedade de chás de ervas várias, quase a roçar a mezinha, preparados e embalados na loja e que ostentam orgulhosamente o seu nome, os seus benefícios e a sua composição. E que, pelo que percebi, continuam a vender bem.


Fazer destes passeios com uma criança tem as suas limitações e cedo a pequena barriga começou a dar horas. A montra da Confeitaria Nacional tinha-lhe ficado debaixo do olho guloso e, como servem almoços simples no andar de cima, foi lá que parámos para descansar. A Confeitaria é belíssima, com os seus tectos trabalhados, chão de tábua corrida e uma decoração e arranjo sem igual. Isto já para não falar nos bolos. A não perder.


O almoço (e algumas dores nos pequenos pés) quebrou o ânimo infantil e a curiosidade para ver mais lojas antigas começou a diluir-se. Estava na hora de regressar... fomos então pela Rua da Betesga, cujo nome provocou sinceras gargalhadas, até ao Rossio, para subirmos para o Chiado pela Rua do Carmo. Apesar do tímido Outono, o cheiro a castanhas assadas já perfuma as ruas de Lisboa.



Na Rua do Carmo, ouvia-se fado como de costume, a sair das colunas instaladas no belo e já quase histórico calhambeque, que há tantos anos é o único carro que ali pode estar estacionado em permanência.


Destas coisas não vemos nós nos outros centros comerciais. Acho que todos temos pena quando vemos nas notícias que cada vez fecham mais lojas e que os centros das cidades estão cada vez mais desertos. Mas todos nós fomos responsáveis por isso e também passa por nós mudar essa realidade. O momento não é o melhor, é certo, porque todos teremos que nos habituar a comprar menos. Eu diria que se com isso nos habituarmos também  a comprar melhor, a pensar no que estamos a comprar, em como e onde foi feito e o que nos oferece quem está a vender, talvez haja ainda uma hipótese. Por isso, a vocês, nossos leitores, fica o apelo: se tiverem possibilidade, prefiram o comércio tradicional. 

domingo, 22 de maio de 2011

O Metro a P&B

O transporte mais rápido dentro das cidades é o metropolitano. O facto de circular por baixo do chão torna-o a opção menos apetecível para os visitantes, que o preterem quando têm ao seu dispor alternativas que juntam o útil (levá-los de um lado para o outro) ao agradável (permitir que se aprecie a cidade que estão a visitar). Lisboa não é excepção. O Metro é a escolha ideal para quem tem de fazer no mais curto espaço de tempo o caminho entre casa e o trabalho ou a escola, mas perde em encanto para quem visita a cidade quando existem alternativas como por exemplo o eléctrico. Mas o facto é que esta cidade, nos últimos anos, ao mesmo tempo que procedeu ao alargamento da sua rede de Metropolitano, também reformou algumas das suas estações, com resultados bastantes interessantes, e que tornam esta opção de transporte mais atraente mesmo para quem esteja na cidade enquanto turista.


Dediquei os dois últimos Sábados a captar imagens de algumas das estações que valem a pena visitar. Por não ser um utente assíduo do metro não conheço bem toda a rede. Há estações onde nunca entrei (e outras onde entrei agora pela primeira vez) - a rede é agora bastante mais extensa do que nos meus tempos de faculdade, quando usava este transporte diariamente – o que provavelmente faz com que tenha falhado as estações mais bonitas. O meu itinerário resulta de uma mistura entre o improviso (parava onde o comboio me levava) e o planeamento (onde pessoas com quem partilhei os meus planos me aconselharam a ir).





Outro ponto prévio ao relato deste passeio tem a ver com a escolha pelas fotos a preto e branco, que não resultam de tratamento posterior das imagens captadas (quem me conhece sabe que não tenho grande paciência para isso), mas antes com uma decisão tomada à partida, e que quase mantive em todo o percurso como à frente se verá, por achar que faz algum sentido no ambiente subterrâneo.


A estação do Cais do Sodré é uma daquelas que não existiam quando eu era cliente assíduo do Metro. Foi inaugurada em 1998 e faz a ligação com a linha do Estoril. O calor daquela manhã de Sábado justificava a grande quantidade de pessoas vestidas para a praia que enchiam a estação e cuja atitude contrastava com a do célebre e apressado coelho do País das Maravilhas, que decora as paredes da estação.




A estação do Terreiro do Paço é das mais recentes do Metro de Lisboa. Este foi o único sítio onde me desviei do plano de manter as imagens a preto e branco, por causa do painel de azulejos que está no átrio central da estação e que, por estar a uma distância razoável do observador, espaço apenas ocupado por traves de betão, provoca um contraste entre o colorido do painel e o monocromático natural da sua envolvente, o que me sugeriu esta fotografia.



Também andei pela Estação da Baixa-Chiado, onde a decoração é menos elaborada, e pela de Santa Apolónia onde existe um painel de azulejos em homenagem aos ferroviários mas que não consegui fotografar decentemente. Ainda assim, a opção pelo P&B, algumas experiências com a velocidade e a sobreexposição e ainda o grão trazido por uma definição de sensibilidade excessiva, produziram algumas imagens que me agradam embora saiba que é um gosto discutível.








Na estação dos Restauradores destaco os seis fabulosos painéis de azulejos de Nadir Afonso que, de uma forma bastante estilizada, representam as cidades de Paris, Londres, Madrid, Rio de Janeiro, Moscovo e Nova Iorque. A escolha pelo monocromático não lhes faz justiça, aconselhando uma revisita em modo colorido.





Onde é obrigatório voltar para fotografar a cores é à estação do Parque, a minha preferida entre as que visitei. A decoração divide-se por dois temas: A Declaração Universal dos Direitos do Homem que está inscrita em todo o arco do tecto da estação e os Descobrimentos que inspiram as paredes, não só nos motivos dos azulejos mas também nas esculturas que só consigo descrever como algo semelhante a totens índios.



A estação do Saldanha, na parte da linha vermelha, foi a que me causou maior estranheza entre aquelas por onde passei. Está coberta de azulejos brancos, onde se inscreveram algumas frases aparentemente extraídas de textos literários, cujo sentido muitas vezes me escapa. Essa ininteligibilidade das frases e o branco das paredes que as expõem dariam àquele lugar um ar de asilo mental, não fosse pelo movimento das pessoas e comboios que mitiga esse efeito. Mais tarde descobri que as frases são da autoria de Almada Negreiros, de quem são também os desenhos que completam a decoração da estação. Prefiro-os. Apesar de também serem de difícil interpretação, em virtude daquele traço fino e vago que lhe é característico, valorizam a estética do sítio.





Aproveitei o facto de estar na linha vermelha para ir conhecer a estação das Olaias, que me tinham aconselhado entusiasticamente. Tem uma dimensão brutal, com um pé direito de, pelo menos 15 metros e, a suportar aquela nave enorme, dezenas de colunas metálicas de ambos os lados da linha com mais de um metro de diâmetro, pontuadas com grandes rebites o que dá à estação um ar de pavilhão industrial. Tem as paredes decoradas com uma espécie de mosaico colorido que ali parece deslocado. Em direcção ao átrio central estão paredes cobertas com mosaicos moldados com mãos de crianças e algo que se assemelha a barcos pendurados no tecto de onde emana uma luz amarela e que confirma a falta de harmonia entre os vários elementos escolhidos para decorar a estação.







Ficaram por ver muitas outras estações, entre as que conheço e gosto (lembro-me do Campo Pequeno ou da Cidade Universitária, por exemplo) e as que ainda não conheço. Também ficou a vontade de regressar a algumas das aqui referidas para experimentar outro tipo de imagens. Ficou sobretudo a ideia de que foi feito um excelente trabalho em dar às estações de metro de Lisboa uma estética capaz de fazer esquecer aos seus utilizadores o facto de estarem sob o solo, fazendo delas as mais interessantes entre as que tenho visto em várias cidades da Europa.

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