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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Lisboa Trezentos e Sessenta



Trabalho num dos mais altos edifícios de Lisboa que, como se não bastasse, foi construído numa das suas colinas. Seria eu alguma vez capaz de não chatear meio mundo para poder ir ao terraço? É lógico que não. A máquina tem andado religiosamente comigo à espera de um dia com visibilidade suficiente e esta baixa de temperatura tornou finalmente possível o meu objectivo. Um grande obrigado a quem tornou este post possível, sobretudo por me ter aturado durante dias e dias a fio a falar no assunto. Sim, eu sei como posso ser uma chata quando quero...



A primeira imagem com que nos defrontamos ao entrar no terraço é a de Benfica e arredores. A mais feia, portanto, que ficará por isso mais para o fim... Em oposição, nada então como começar a fotografar o casario que se estende até ao rio.


E, do casario, vamos entrando aos poucos pelo mar da palha. Naquelas manhãs difíceis, nada como ir à janela antes de começar a trabalhar porque não há estuário mais fabuloso no mundo do que este...


E vai-se vendo aos poucos o recorte de Cacilhas, de Almada, do Cristo-Rei...


... e, claro, da nossa incontornável Ponte.


E deixando a linha da ponte, entra-se em Monsanto, uma pincelada de verde forte sobre os tons pastel de Lisboa...


Quando estamos apaixonados, não vemos defeitos. Ou não os queremos ver. A minha relação com Lisboa já não é de só de paixão, é de amor antigo que me faz voltar incessantemente, todos os dias, independentemente dos problemas que possamos ter de quando em quando. Que me faz estar lá. Sempre. mas que não me impede de ver que também tem o seu lado feio. O seu lado desordenado. O seu lado desinteressante. Mas é, ainda assim, parte da minha Lisboa.


Um desordenamento perdoado por quase tudo o resto. Ou não?



Já agora, para os mais curiosos, como será o topo da Torre três das Amoreiras? Aqui fica...



quinta-feira, 4 de julho de 2013

A Praça de Babel e o mergulho do dragão

Há zonas de Lisboa que são estigmatizadas, tratadas como sendo... piores do que as outras. Mais feias, menos apelativas, mais perigosas. Onde não se gosta de ir. Onde não se quer ir. Com má fama, no fundo. Era assim no Intendente. Era assim no Martim Moniz. Mas agora não. Já não. 


O Martim Moniz vestiu-se de cor. Postes decorados com patchwork de croché e tricot, de cores e formas tão diversas que a mistura não pode ser mais do que excelente. Tal como o Intendente, antes uma zona degradada, agora uma mistura de culturas que lhe trouxeram uma nova vida. Uma nova paz. 


Um dragão gigante, feito com peças de computadores e telemóveis, nada no meio da praça do Martim Moniz, marcado pela sombra de mil bandeiras debaixo do sol do meio-dia. Uma homenagem à comunidade chinesa feita em dois mil e doze, Ano do Dragão. 


Bandeiras que cortam o céu azul e dão um novo enquadramento ao nosso Castelo.


Cadeiras e mais cadeiras bem ordenadas à sombra, a convidar ao descanso...


... e ao fundo, um pequeno quiosque coberto com panos africanos mas que nos encheu a alma de fado, a nossa marca indelével nesta Babel em Lisboa.


E, ali mesmo ao lado, os quiosques do mercado de fusão, onde se encontra comida de tantas partes do mundo, onde se pode assistir a demonstrações culinárias; onde o chão parece estar suspenso no ar. Um sitio que se presta a tantos eventos quantos tem havido nos últimos meses e que prometem estender-se por este verão fora.


E agora? Ainda vos falta vontade de ir ao Martim Moniz?

domingo, 23 de junho de 2013

A casa dos sofismas


Levei quase dois meses a encontrar as palavras para este post. E elas, constantemente, a correrem à minha frente. A fugirem. Queria descrever com a devida circunstância a visita que fiz no final de Abril ao Palácio de São Bento. Estava marcada desde Janeiro por um amigo do João e, como ele não pôde ir, tomei eu o seu lugar no grupo. Queria ter escrito logo. Tentei. Não consegui. O que poderia justificar a ausência de palavras após a visita à casa onde a palavra é soberana? A um sítio que outrora achei tão inspirador?

A Prudência | A Justiça | A Força | A Temperança


Pensando, pensando, é o desrespeito. O desrespeito que sinto por todos aqueles que deveriam representar-nos e que não fazem mais do que representar-se a si próprios.  E o meu desrespeito não é mais do que o espelho da sua própria falta de respeito. Pelas palavras por si proferidas, pelo peso de um nunca, de um sempre, de um tudo, de um nada, que num instante são reduzidas a pó, amassadas e transformadas precisamente no seu contrário.     

Bustos de Natália Correia, Adelino Amaro da Costa e Alda Nogueira, Claustro

Pelas palavras de outros que lutaram para que as de todos pudessem ser ouvidos. Pelas palavras que deixam de trocar entre si, substituindo-as pelo insulto fácil, pelo discurso destrutivo, pela mensagem enganadora. O desrespeito uns pelos outros. Acima de tudo, o desrespeito por todos nós, essa massa estúpida e ignorante, incapaz de perceber a estoicidade do que está a ser feito, de elogiar a coragem de quem decide, de quem suporta e de quem critica mas não tem realmente coragem para fazer diferente. E daqueles que não se conseguem entender para poder ter força para fazer diferente.

Jardins do Palácio e Palacete de São Bento

Essa massa que não soube dizer não quando lhe disseram que era fácil, barato e dava milhões comprar o seu apartamento no subúrbio por duas vezes mais do que valia porque iria poder vendê-lo pelo triplo em dois anos e endividar-se o quádruplo, porque bolhas, só de sabão que as imobiliárias eram coisa do passado e que não não valia a pena ter preocupações com o futuro nem, já agora, ler as letras miudinhas do contrato. Para quê? Olha, agora aguentem-se!
    
Átrio Central
Escadaria Nobre e Lustre
Essa massa estúpida que não sabe o que são as coisas grandes. Que não percebe o que é uma taxa de juro, que não sabe o que é a dívida pública, um spread, uma yield e para quem as previsões económicas são algo tão esotérico e de difícil acerto quanto as previsões meteorológicas (humm...)...

Passos Perdidos 

O meu primeiro emprego foi como jornalista. Foi das melhores e mais gratificantes experiências da minha vida. Uma das minhas tarefas era fazer a cobertura dos debates e das comissões parlamentares, algo que eu pura e simplesmente adorava. A casa dos sofismas ainda era, para mim, a casa da democracia. Aprendi muito naquela sala dourada, mesmo com aqueles com quem não concordava. 


Senado

Tirava prazer dos debates parlamentares porque ainda tinham alguma elevação. Ainda se debatia a vida das pessoas considerando-as isso mesmo: pessoas. Não números. Não uma pilha de objectos inertes cujas vidas são puramente irrelevantes. Havia ainda preocupação sobre um conceito tão central no Estado como o bem-estar social. E a preocupação era, acredite-se, generalizada e genuína. E não era a ingenuidade dos meus vinte e poucos anos que me cegava. Era, sim, o facto de ainda haver pessoas que estavam na política para servir os outros mais do que para se servir a si próprios. Aqueles espécimes que hoje conseguimos contar pelos dedos? Sim, ainda os havia. Também ia já havendo dos outros, dos de agora, ainda pequeninos mas a lançar já as suas sementes, a tecer as suas teias, que foram o que realmente nos levou a onde estamos. Todos eles, independentemente do partido, não têm o menor escrúpulo em trair o seu eleitorado, em propor ou fazer diferente do que havia sido prometido. Para mim, as eleições são um contrato entre mim e aqueles em quem voto. Para aqueles são um conjunto de cruzes em papéis, firmadas por uma cambada de ignorantes.


Sala das Sessões

O guia, na nossa visita, fez um apelo constante à intervenção. À participação. Sempre correcto no seu papel institucional, mas sempre a alertar para aquilo que cada um de nós pode fazer. Deve fazer. Sempre atento, sempre diligente, mas claramente exasperado por os cidadãos estarem cada vez mais longe dos seus representantes. Ou, afirmo eu, por os representantes estarem cada vez mais longe dos cidadãos, de quem os elegeu. Porque as palavras ditas em campanha, que orientam os votos de muitos eleitores, leva-as o vento. E leva-as logo à primeira oportunidade que surge. Porque são palavras ocas, ditas por pseudo-líderes mal intencionados 'e barra ou' esquizofrénicos.

Salão Nobre
Galeria dos Presidentes | Vista sobre o Claustro

Fascina-me sempre a ciclicidade da história. Como os problemas de hoje eram problemas há cem ou há duzentos anos. Como tão facilmente as pessoas deixam de ser pessoas e como lhes é dada a ilusão de que o são. Custa-me que a maioria dos nossos políticos não seja capaz de olhar para o passado. De aprender com a história. Entristece-me quando lhes é posta à disposição uma infinidade tão grande de conhecimento, de relatos do passado, que a maioria não lê. Não lhe interessa. Porquê? Porque em nada contribui para a sua agenda pessoal. 



Biblioteca | Vista sobre a Rua de São Bento

Porque a política de hoje não é mais do que isso. Uma agenda pessoal.

Sala dos Arcos



E é por tudo isto que o desrespeito não pode ser inspirador. Para quando uma verdadeira mudança?

Escadaria

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